segunda-feira, 30 de junho de 2008

Algumas questões éticas sobre a investigação

No sentido de aprofundar as minhas ideias sobre a ética na investigação, li o artigo ‘La ética del investigador frente a la producción e difusión del conocimiento científico’ de Álvaro Márquez-Fernandez[1] (pode ser consultado a partir do espaço ‘Gogos, conchas e pérolas’).
Ficam aqui alguns apontamentos que resultaram da minha leitura:

No seu artigo, o autor abrange as diversas dimensões da ética na investigação, apresentando uma listagem de situações possíveis de falta/ausência de ética na investigador e alertando para o facto de que ética depende sempre do investigador, dos seus princípios, interesses,... [este último aspecto parece-me particularmente interessante, uma vez que, deste modo, dois investigadores que estudem um mesmo aspecto poderão ter atitudes e, consequentemente, resultados completamente diferentes – basta para isso, que um condicione algum aspecto da sua investigação por razões éticas]
Assim, o autor defende que a ética é a garantia da credibilidade do novo conhecimento científico apresentado e da aplicação humanitária deste. [ideia próxima da defendida pela Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida! – ver post sobre do decurso da actividade 6]
A ética serve, portanto, para definir a forma de actuar, de produzir e de difundir o conhecimento científico [novamente a totalidade do processo], para bem da Humanidade, respeitando a liberdade, a originalidade e a criatividade do investigador, mas também as dos outros membros da comunidade científica.
O cumprimento destes valores éticos depende, no entanto, de uma complexidade de aspectos, pois não é algo espontâneo do investigador (não é uma disposição natural). Deste modo, a atitude ética depende de uma teia das relações sociais que define o perfil ético do investigador. [a definição da ética na investigação é, portanto, uma construção social]
Como exemplos de situações em que existe falta/ausência de uma atitude ética o autor refere (p. 643): escamoteamento e manipulação de referências bibliográficas; a paráfrase de uma ideia de outro autor; o plágio parcial ou total de um texto de outro autor; o desrespeito pelas normas de apresentação de um artigo (ex. a exclusividade de um artigo numa determinada revista); a aquisição de estudos (ex. o investigador paga a alguém para desenvolver um estudo que depois publica em seu nome), a coacção de um membro do júri de avaliação de um estudo. Máquez-Fernandez considera, portanto, que existem muitas maneiras diferentes de se ter uma postura antiética em investigação.
A certa altura, o autor compara a postura do investigador à do professor: considera que em ambos os casos, a postura ética vai além do cumprimento de um código de normas – trata-se de algo muito mais complexo, pois trata-se de algo que depende fortemente do desenvolvimento moral do investigador e do professor.

Comentário:
Considero que este artigo veicula bem a ideia da ética como norteadora de todo o processo de investigação – ela serve de travão e de bússola, pois, por um lado, delimita a acção do investigador, por outro, ajuda-o na descoberta de caminhos a seguir na sua investigação.

[1]MÁRQUEZ-FERNANDEZ, A. (2001). La ética del investigador frente a la producción e difusión del conocimiento científico. In Revista Venezolana de Gerencia, año 6, nº16 (pp.636-650).

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